Eu costumava escrever. 1
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Eu costumava escrever. Cartas. Disfarçadas de crônicas, como se alguém se enganasse que aquela dor não era minha. Eu sentia o coração sangrar e tinha orgulho, escancarava o peito e deixava ele ali, se debatendo e a dor fluindo pelo corpo todo e saindo em forma de palavras. Estranhamente, eu gostava daquilo. Gostava do que saia de mim. Lembro que quando lia tudo de novo, não parecia que tinha vindo daqui de dentro.

Eu lembro qual foi a última vez que escrevi.

Lembro porque, 4 anos atrás, o coração aquietou-se, cheio de um amor que não mais o feria.

Eu gostava de escrever. Gostava das minhas palavras e de como as enfileirava, uma puxando a outra. Então tentei uma, duas, três vezes. Escrevi coisa ou outra, sobre nada. Não tinha dor pra falar e, sobre felicidade, escrevia parágrafos inteiros na minha cabeça, mas ocupada que estava amando, não havia tempo para registrá-los em lugar algum e acabavam se perdendo.

Hoje, quando tudo dói de novo, eu me encolho em mim, tentando sufocar o coração que antes ganhava espaço quando doía. Mas acho que com o tempo, passei a temer a dor.

Não é pra menos. Quatro anos atrás eu não tinha tantas preocupações ou responsabilidades, e eu podia sentir o que quisesse na hora que quisesse. Agora? Agora eu não posso interromper uma reunião de trabalho porque uma memória me esmurrou o estômago. E as ondas reprimidas vêm mais forte nos momentos em que sou tudo o que tenho.

Talvez eu volte a escrever.