Lembra aquela vez Book Cover Lembra aquela vez
Adam Silvera
Juvenil (YA)
Rocco Jovens Leitores
2017
336
Lembra aquela vez — Adam Silvera 1

Aos 16 anos, Aaron carrega no pulso uma cicatriz que registra a dor pelo suicídio do pai, mas, com o apoio da mãe e da namorada, Genevieve, está determinado a seguir em frente. Quando a garota viaja para um acampamento, porém, Aaron se aproxima de Thomas, e acaba encontrando nele mais do que um melhor amigo. Confuso, Aaron considera recorrer ao LETEO, um instituto que realiza procedimentos científicos para apagar memórias indesejáveis, na tentativa de esquecer lembranças ruins e, principalmente, quem ele é. Mas será possível encontrar a felicidade fugindo de si mesmo? Com uma narrativa pungente e sincera, Adam Silvera fala sobre bullying, homofobia, medo, incertezas, ética, amizade, amor, aceitação e a procura pela felicidade.

Lembra aquela vez — Adam Silvera 2

Lembra aquela vez traz a história de Aaron, um garoto de 16 anos que vive em New York.

Logo nas primeiras páginas, narradas em primeira pessoa, aprendemos que a vida de Aaron não é nada fácil. Ele vive em um pequeno apartamento de apenas um quarto com sua mãe e seu irmão desde que seu pai se suicidou naquele mesmo apartamento. Aaron também tentou se matar logo depois do pai.

Mas as dificuldades financeiras da família não são o foco do livro.

Logo em seguida conhecemos o grupo de amigos de Aaron, que moram todos no mesmo condomínio, e também sua dedicada namorada, Genevieve. Mas é quanto Thomas, um garoto de um condomínio próximo, entra na história que as coisas começam a mudar.

A amizade dos dois se constrói como todas as boas amizades se constroem: rapidamente e sem explicação. Eles mostram uma conexão profunda, conhecendo detalhes um do outro quase que instintivamente. E toda essa proximidade, somada a traços da personalidade de Thomas, faz com que Aaron comece a desconfiar da sexualidade do amigo.

Lembra aquela vez — Adam Silvera 3

“Vendo apenas as sombras lançadas pela lanterna verde de papel, ninguém diria que somos dois meninos sentados perto um do outro, tentando encontrar a nós mesmos. Você só veria sombras se abraçando, indiscriminadamente.”

Aaron começa a questionar se Thomas sabe da própria sexualidade, tamanha certeza ele tem que o amigo é gay. Mas essa desconfiança de Aaron lentamente começa a refletir sobre sua própria identidade sexual. Até que ele se vê confessando ao amigo que talvez ele mesmo seja gay. É neste ponto que começamos a ver os conflitos do personagem principal com a própria sexualidade (e com o fato de estar apaixonado pelo melhor amigo hétero).

É depois de um ataque físico brutal que ele sofre dos próprios amigos que Aaron começa a recuperar algumas memórias que haviam sido clinicamente manipuladas e alteradas após sua tentativa de suicídio. A partir deste momento começamos a reviver junto com Aaron essas lembranças traumáticas das mais diferentes situações vivenciadas pelo adolescente.

Lembra aquela vez é um livro tocante, sobre um adolescente que luta contra sua própria identidade, tomando medidas drásticas numa tentativa desesperada de negar quem ele é e escapar das agressões às quais sua sexualidade o deixa vulnerável.

É desesperador ver seu sofrimento, não porque a narrativa seja pesada (ela definitivamente não é), mas por saber que isso é uma realidade pela qual milhares de jovens passam todos os dias. Especialmente quando se trata de jovens que, assim como Aaron, vivem em bairros periféricos.

Lembra aquela vez — Adam Silvera 4

“Eu não quero mais ser eu.
Não quero não saber se meus amigos aceitarão quem sou, e, mais do que isso, não quero descobrir o que vai acontecer caso eles não aceitem.”

O livro é lindamente escrito, e toca pontos extremamente importantes sobre os conflitos pessoais e sobre sexualidade. Sem meias verdades, o autor expõe os medos e pensamentos de Aaron, os obstáculos que ele é obrigado a enfrentar e as agressões que ele sofre por ser quem ele é. Os questionamentos e receios de Aaron são os mesmos de muitos jovens que, diariamente, precisam enfrentar a ideia de que talvez eles não sejam como os outros.

Com um toque de ficção científica, o autor obriga também reflexões sobre a importância do passado e das lições que aprendemos com nossas experiências e também coloca em questão a validade e utilidade da manipulação de memórias e esquecimento – que às vezes desejamos que não fosse tão ficção.

Um dos livros mais relevantes que já li sobre o tema, poderia muito bem ser leitura obrigatória para adolescentes e jovens.