Sobre quando você precisa sair 1
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Nem só de resenhas e posts polêmicos se faz uma colaboração, não é mesmo?

A Stephanie me pede há séculos pra escrever esse post e eu sempre deixei ele de lado, mas talvez agora seja a hora certa.

Amanhã eu completo 6 anos de Florianópolis.

6 anos atrás meu pai me trouxe até aqui de carro, me ajudou a esvaziar minhas malas em cima da cama, me disse que se eu em algum momento quisesse desistir estava tudo bem e foi embora (levando as malas). Nesse exato momento, toda a certeza que eu tive nos dois anos anteriores de que eu precisava morar aqui foram embora. Me bateu um pânico que só era agravado pela quantidade enorme de coisas que eu tinha que guardar num armário de duas portas pra conseguir deitar na cama em posição fetal e esperar passar.

Esperar passar porque racionalmente eu sabia que estava exatamente onde eu queria estar.

Poucas pessoas, entretanto, sabem porque eu vim parar nessa ilha.

Em 2006 meus pais se separaram. E desde então é especialmente difícil viver perto da minha mãe. Isso se tornou uma bola de neve tão grande que fez com que a nossa convivência beirasse o insuportável para mim. No ano seguinte eu decidi que prestaria vestibular para Design Gráfico e, dentre as opções possíveis, a UFSC se tornou a preferida, visto que eu não estava disposta a morar em São Paulo (USP), nem continuar em Sorocaba (UNISO) e nem a fazer uma prova de aptidão em desenho (UNESP) porque eu realmente não sei desenhar.

No final de 2008 vim pra cá em minha viagem de formatura, e a paz e tranquilidade que eu senti aqui eu nunca havia sentido em nenhum outro lugar. Isso só reforçou minha vontade de voltar pra ficar. Fui embora dessa viagem prometendo que voltaria logo e pra morar.

Aí eu prestei dois vestibulares: FUVEST e UFSC. E não passei em nenhum dos dois. Se eu tivesse uma péssima rotina de estudos seria mentir, visto que eu não tinha qualquer hábito de estudar em casa.

Depois de muita conversa, fiz um ano de cursinho, com a promessa que precisaria prestar todos os vestibulares disponíveis. Fiz prova até no dia seguinte do casamento do meu pai com minha madrasta e meu calendário de provas era uma loucura.

Uma semana antes de vir prestar o vestibular da UFSC novamente meu pai questionou se eu realmente queria fazer a prova, já que não passaria novamente. Mas cá estou.

 

Acho que a parte mais difícil de mudar de cidade (e de estado) é encontrar uma casa. Fotos e descrições de quartos ou kitnets vagas são muito subjetivas e é impossível decidir alguma coisa sem conhecer pessoalmente o local.

Acabei encontrando vaga em uma moradia estudantil, que é basicamente um misto de república e pensão. Passei anos dividindo o quarto com diferentes meninas e só me mudei para um quarto solitário quando precisei de espaço e concentração pra produzir meu TCC.

A maior vantagem de morar com bastante gente (somos em 14 aqui) é sempre ter pra quem pedir ajuda. Seja pra pedir uma colher de açúcar, pra comprar um remédio ou pra te acompanhar até o pronto-socorro.

 

Agora, seis anos depois, eu realmente sinto que conheço a cidade. Sei me locomover aqui como nunca soube em Sorocaba. Conheço as ruas, conheço os bairros e conheço os ônibus. Aquele pânico do meu primeiro dia aqui apareceu de novo umas quatro ou cinco vezes, sempre que eu voltava de uma temporada na casa dos meus pais, mas sempre passava. A estratégia era chegar em casa, deixar as malas e sair ver qualquer  pessoa que me lembrasse que eu tenho uma vida aqui, que eu tive uma vida aqui desde o momento que decidi que teria, lá em 2008.