feijão tropeiro

Eu cresci à base de frango caipira com quiabo, angu e couve mas sempre ouvi que essa magreza toda era falta de feijão com farinha, coisa de mineiro sabe? Eles sabem que sou de fora, mas poxa sou quaase mineira só que mal alimentada… Aja farinha!

Culinária mineira caipira não tem nada de muito luxo não, é muito estudo de Chef para transformar comida tão tradicional em alta gastronomia, conhecem o dito popular que de comida mineira não é típica, aquela que se come só em restaurantes para dizer que se passou por Minas Gerais, é comida de todo dia…. Café com queijo é o que me acompanha para postar, mas o que eu precisava mesmo era de feijão e farinha.
Já dizia Tristão de Athayde lá no século passado que “a comida e a adega mineiras seriam consideradas com desprezo pelos gourmets” porque “a mesa é sempre um acessório”. Para retratar que o povo mineiro sempre foi um povo simples, nada de talher, talher é coisa de “sensualista europeu”, mineiro comia mesmo é com as mãos até os primeiros anos depois da Independência, porque “dá mais gosto”.

Agora chega aqui em casa e se recuse a tomar um cafézin… Que desfeita é essa? Café com queijo, com mandioca frita, com pão de queijo, antes do almoço, depois do almoço, preto, com leite, com doce, sem doce… Tomar café é como um prêmio, esse produto paulista.. aah… sente o ar da ryqueza? Mande-nos café, temos leite para vocês. Porque leite puro, mineiro não toma, leite é para se fazer queijo, não para tomar, chega a dar doença… Peixe também não se comia, muita gente acredita que dava lepra…

Sempre presente na mesa do mineiro, estão sempre arroz, feijão, toucinho, couve, farinha, angu, lombo de porco e galinha, o arroz chegou a ser artigo de luxo até pouco tempo atrás, era servido até para o escravos que comiam “melhor que os jornaleiros das fábricas na Europa”, segundo o Conselheiro Francisco de Paula Cândido (1868).

Pouco mudou na alimentação do mineiro, ainda sinto o cheiro da lenha queimando no fogão de lenha que minha vó descendente de escravo usava para fazer café, frango com quiabo, torrar farinha… Vejo, como se na minha frente, meu avô comendo toda aquela comida só de colher como seus ancestrais… Ah Minas Gerais…

“Na minha qualidade de mineiro,
E acostumado às coisas do meu lar,
Três meses eu andei pelo estrangeiro
Vendo muita relíquia… e a jejuar.”
 Belmiro Braga (1872 — 1937)

Esse post é um retrato do livro “A Cozinha Brasileira (1970)” que pertenceu a minha avó, que conta a história da culinária mineira desde o século XVIII.

Aqui no blog, sempre coloco receitas de minas, você encontra todas as publicadas aqui.