Pois Não, Chef Book Cover Pois Não, Chef
Marcus Samuelsson
Culinária e Gastronomia
Rocco
2013
416
Pois não, Chef — Marcus Samuelsson 1

Um órfão etíope adotado por uma família sueca que se tornou um badalado chef em Nova York. Marcus Samuelsson, dono do Red Rooster - restaurante no Harlem que reinventou a cozinha americana e reúne desde políticos até músicos de jazz e trabalhadores da região - relembra sua trajetória em 'Pois não, chef'. Após perder a mãe para uma tuberculose, Samuelsson e a irmã foram viver na Suécia, onde ele descobriu, na cozinha de sua nova avó, Helga, a paixão pela culinária. De lá para cá, fez bicos em cruzeiros, passou por cozinhas exigentes na Europa, venceu um reality show e encontrou em Nova York a sua casa.

*livro recebido em parceria com a editora

Pois não, Chef — Marcus Samuelsson 2

A cozinha é uma zona de guerra. Com uma hierarquia militar, do Chef ao lavador de pratos (steward), “Pois não, Chef” é a mesma coisa que dizer SIM SENHOR no exército.

Em qualquer cozinha profissional, o pessoal na base hierarquia da equipe executa qualquer ordem superior com obediência militar. “Pois não, Chef” foi o que aprendi a dizer, caso ele ou ela pedisse um pedaço de carne ou a minha cabeça numa travessa. Pois não, Chef. Pois não, Chef. Pois não, Chef.

E é neste cenário realista, que Marcus Samuelsson, um etíope adotado por uma família sueca, nos conta sua história.

“Se eu tivesse que identificar minha primeira memória gastronômica, não seria por meio de sabor nenhum, mas sim de um cheiro: o da casa minha avó.”

Depois de ser rejeitado em alguns restaurantes, Marcus aprendeu uma lição valiosa. Não ia ser alguém, que não conseguia ver além da cor da sua pele, que iria detê-lo. Marcus focou em ser o melhor, para a gastronomia não ter outra escolha a não ser dizer “sim”. Ao longo do livro, ele mostra como superou o rótulo de “nègre” — expressão gastronômica de origem francesa para se referir à cargos inferiores, que literalmente significa “negro”, e abraçou sua cor de pele tornando uma inspiração para todos os afro-americanos que querem se tornar Chef’s 3 estrelas do New York Times um dia.

Pois não, Chef — Marcus Samuelsson 3

Ficava cada vez mais claro pra mim que os negros, de forma deliberada, eram praticamente excluídos do cenário da alta gastronomia.

Mesmo o livro sendo uma biografia, você aprende sobre vários aspectos, como é trabalhar na cozinha. Como cada Chef tem estilo, personalidade e uma paixão própria. Marcus descreve como aprendeu, sob insultos, a partir um cordeiro inteiro e que esse aprendizado, que a gente nunca perde, vale mais do que tudo.

Ele também confirma o que sempre comento no meus posts sobre gastronomia: ser Chef não dá dinheiro à nível de Wall Street, é preciso ter paixão pela perfeição da profissão. Além do muito trabalho, pouca diversão.

Depois de uma tentativa frustrada de ser jogador de futebol, tendo como Pelé como primeira referência negra em sua vida, Marcus entrou em uma escola de gastronomia e depois seu primeiro estágio, tinha como foco viajar pelo mundo e ser Chef profissional. Foi de restaurante em restaurante, viajando pelo mundo — com pouco dinheiro, ou trabalhando de graça e recebendo vários não como resposta, que o autor descreve sua trilha até chegar ao ponto de escrever sua biografia.

Pois não, Chef — Marcus Samuelsson 4

Sua descrição dos sabores que encontrou pelo mundo, seu trabalho no Aquavit (restaurante sueco que o levou à Chef) e em seu próprio restaurante no Harlem, periferia de Nova York e sua paixão pela gastronomia torna este livro tão rico que qualquer um apaixonado por comida ia devorar esta leitura, mesmo quem não trabalha na área.

Além de sua biografia Marcos escreveu alguns livros de receitas que são bem famosos, como o “The Soul of a New Cuisine”, que mostra a descoberta de pratos e sabores de todo o continente africano. E tanto “Pois não, Chef” como suas outras obras são leitura obrigatória para amantes da mistura de sabores mundiais.

É por isso que coço a cabeça sempre que ouço falar em “chef celebridade”, como se nossa vida fosse fácil. Ninguém faz ideia da montanha-russa que é o mundo da gastronomia.